Biografia de Laura Nyro – Epílogo

4.1 – "Time and Love"

Foi feito um concerto-tributo a Laura no Beacon Theater, em Manhattan, que contou com performances de cantores como Rickie Lee Jones, Cyndi Lauper, Sandra Bernhard, Phoebe Snow, Kenny Rankin, Desmond Child and Rouge, e Patti LaBelle, que gravou com Laura o disco Gonna Take a Miracle. Deborah Sontag escreveu, à época, que o concerto oferecia uma explicação que, apesar de clichê, parecia decifrar o mistério por trás do “anonimato” pelo qual a cantora passou: “Nyro optou por sair do mercado musical porque tanta grosseria e comercialismo de custos crescentes e insuportáveis ofendiam sua alma artística”.

Ainda em 97, Louis Nigro, pai de Laura, então com 81 anos, comentou sobre a filha: “Ela poderia ter tido então tantos discos de ouro na parede quanto teve Neil Sedaka. Mas Laura sempre foi muito sensível. Ela não gostava de colaboração. Ela não gostava de compromissos. Ela era uma artista, e ela não gostava - pelo contrário, odiava a festa do showbizz”.

Maria Desiderio
Maria Desidério, reitera o caráter libertário de sua companheira: “O negócio da música foi uma coisa com a qual Laura nunca se sentiu confortável. Ela via isso como um monte de amizades falsas e falsas emoções. Mas os 'negócios' da vida, Laura viveu intensamente. Ela nunca se pareceu como uma ermitã”.

A dinâmica da relação entre Desiderio e Nyro foi descrita por Zoe Nicholson (ex de Desiderio e amiga de ambas) como um profundo vínculo pessoal e artístico: “Eram como Stein e Toklas, ou Dali e sua esposa, ou Kahlo e Diego Rivera”. Desiderio, uma pintora nativa do Brooklyn, viveu com Laura durante 17 anos em uma bucólica propriedade em Danbury, Conn. Nesse lugar repleto de árvores e riachos, Laura viveu com Desiderio, e ali também ela criou seu filho Gil Bianchini, que a amiga Nicholson dizia ser a única “exceção” masculina em uma casa de espírito feminino. O lar do casal era simples e despojado, decorado com lâmpadas de papel feitas por Isamu Noguchi, e se destacavam ali seu grande piano e centenas de livros (a maioria, de mulheres). Era nesse lugar que Laura praticava suas atividades rotineiras, como cozinhar e passear no campo.

Vários álbuns póstumos foram lançados desde então. Em 2001 saiu Angel in The Dark, reunindo suas últimas gravações, feitas entre 1994 e 1995. As 16 músicas do disco mostram que mesmo doente, Laura estava em excelente forma como intérprete e compositora. Seria possível fazer uma pequena ressalva sobre a falta de uma "unidade" entre as canções – sente-se falta do conceito de "álbum" conectando o trabalho. Mas este é certamente um detalhe menor, que em nada compromete o disco. 

São belas composições individuais, cheias de romantismo, otimismo, amor e esperança, o que faz imaginar que a cantora aparentemente teve uma morte serena e sem amargura. Sua interpretação vocal e performance ao piano são também dignas de nota, soando tão frescas e bem feitas quanto nos discos da década de 70.

A faixa Be Aware é certamente um dos destaques. Essa música, de Burt Bacharach e Hal David, já foi gravada por cantoras como Barbra Streisand e Dionne Warwick. Michele Kort, que escreveu uma biografia sobre Laura, tem Be Aware como sua música predileta de Angel..., e comenta sobre ela: “Como escrevi em meu livro, 'é uma doce, porém poderosa rendição a pequena sabedoria de um clássico de tirar lágrimas'. Eu ainda não consigo ficar com os olhos secos quando a escuto. Que sentimento pode ser mais apropriado em um tempo como esse, quando nós - bem, qualquer um que ouça Laura Nyro, pelo menos - estamos tão informados sobre as injustiças aqui e ao redor do mundo?”

Um álbum-tributo também foi feito, logo depois da morte de Laura. Time and Love: The Music of Laura Nyro conta com participação de varias cantoras, como Suzanne Vega e Lisa Germano.

E em 2002, sai Live: The Loom's Desire, com gravações de shows de natal feitos em 93 e 94.

Em 2012, a cantora foi homenageada pelo Rock and Roll Hall of Fame. Ainda que suas influências e seu som não estejam propriamente ligadas com o estilo do rock, um reconhecimento dessa proporção é certamente bem vindo - ainda mais para uma cantora sempre neglienciada a citações de rodapé, quando muito. Porém, nesse caso da indicação, nem tudo são flores:

Em um dos videos feitos pelo RARHOF, Meredith Rutledge-Borger, curadora do museu da instituição, comenta a homenagem à Laura Nyro, mas baseia o mérito da indicação em um erro crasso: o de que Laura teria sido apenas uma compositora que compunha para outros artistas. Além dessa informação contrariar todos os discos e toda a magnitude de Nyro como intérprete, a curadora ignora outros dados, como o de que algumas canções de sucesso de Laura com outros intérpretes (como Wedding Bell Blues, por exemplo) foram feitas quando ela tinha apenas dez anos de idade. 

Episódios como esse (apesar da oportuna e mercida homenagem a Laura) evidenciam o obscurantismo que cerca a vida e a obra da cantora e compositora. Será que algo assim aconteceu quando indicaram Carole King em 1990 e Joni Mitchell em 1997?

4.2 - Comentários sobre Laura Nyro

Todd Rundgren
Logo após sua morte, vários artistas, como a já citada Joni Mitchell, comentaram o que pensavam sobre Nyro e sua obra. Todd Rundgren (outro grande músico “injustiçado” como Laura, igualmente talentoso, porém de uma carreira irregular) afirmou que ao “ouvir as músicas dela, parei de tentar fazer músicas estilo The Who, e comecei a tentar compor canções como as de Laura”. Homenageou-a em uma música, “Baby, Let's Swing”, do álbum “Runt”.

Bob Dylan disse “Eu adoro seus acordes!”. Alice Cooper afirmou que Laura é uma das compositoras que mais aprecia. Jenny Lewis, da banda Rio Kiley, confessou que seu disco solo de 2006, “Rabbit Fur Coat”, é muito influenciado por Laura.

Gregory Maguire
Em uma entrevista com Gregory Maguire, autor do Romance Wicked, de 1995, quando perguntado se a personagem “Elphaba” é baseada em alguém do mundo real, ele disse: “Minhas heroínas não-ficcionais incluem Virgínia Woolf, Emily Dickinson e Laura Nyro, todas infelizmente já falecidas. De qualquer forma, Elphaba é baseada nessas três”.

4.3 - Curiosidades

- A cantora era uma admiradora da cultura italiana. Além de ter se casado com David Bianchini, e anos depois ter tido um caso com Maria Desiderio, ambos italianos, admirava filmes do neorealismo italiano. Apreciava especialmente a atriz Anna Magnani, e o filme The Rose Tattoo.

- Apesar de Laura Nyro ter assumido seu romance com Maria Desiderio somente na segunda metade da década de 70, é provável que essa paixão tenha se iniciado muito antes. No disco Gonna Take a Miracle, há uma pequena canção chamada Desiree, que teria sido feita para Desiderio (o título já faz uma clara alusão ao sobrenome da amada de Laura). Outra música que teria sido feita para Maria é Emmie, do disco Eli and the Thirteenth Confession, de 1967, quando Laura tinha apenas 19 anos, e Maria, 13 (!!).

- Ainda na contracapa de Eli... (foto ao lado), a menina que Laura beija no escuro é Maria Desiderio.

Florence Foster Jenkins
- Outra curiosidade é sobre uma de suas influências musicais: uma cantora bizarra do início do século XX chamada Florence Foster Jenkins. Outro artista que admira essa infame e divertida “cantora” é David Bowie.
Florence viveu na primeira metade do século XX. A socialite era amante das artes, e financiou obras de vários artistas de sua época. Ela tinha o hábito de presentear os amigos com gravações caseiras de canções interpretadas por ela, geralmente com um pianista acompanhando. O problema é que ela está milhas de ser uma cantora sequer razoável, como é possível conferir em sua versão da ária de Mozart, “Queen of the Night, facilmente encontrável no you tube.

Gil Bianchini
- O filho de Laura, Gil Bianchini, se tornou rapper, e atende pela alcunha de Gil-T. Apesar do sobrenome, o pai de Gil não é o ex-marido de Laura, David Bianchini, mas sim um indiano chamado Harindra Singh, com quem a cantora teve um breve caso.

- Desidério conta que Laura nunca gostou de dar autógrafos, mas isso raramente se tornava um problema para ela, pois quase nunca era reconhecida.

4.4 - Fontes

Site oficial de Laura Nyro
(http://www.lauranyro.com)

Artigos do New York Times
(http://topics.nytimes.com/topics/reference/timestopics/people/n/laura_nyro/index.html)

Rabdrake's Weblog
(http://rabdrake.wordpress.com/2008/12/30/maria-desiderio-part-of-the-lesbian-tide-out-and-proud-in-1978/)

Wikipedia
(http://en.wikipedia.org/wiki/Laura_Nyro
http://pt.wikipedia.org/wiki/Laura_Nyro )

Soul Picnic
(http://michelekort.wordpress.com/ )

Orkut - Comunidade Laura Nyro
(http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=117210 )

Mondo Pop
(http://www.mondopop.net/2006/10/07/laura-nyro/ )

All Music
(http://www.allmusic.com/cg/amg.dll?p=amg&sql=30:)

Veja online

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